segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

O falso honesto

Alfredo foi criado em meio aos mais requintados tratamentos dado a uma criança, não por seu poder aquisitivo, pois era de família rica, mas não milionária, entretanto tinha em toda sua composição familiar um grupo completo de pessoas, pais, avós, tios, tias, primos, enfim uma linhagem onde tinham minimamente graduação superior, discursos familiares ilibados e exemplos diversos de sucesso profissional onde não se ouvia, pelo menos não se ouvia, ações inadequadas ou manifestações contra a moral ou ética. Neste ambiente, Alfredo foi criado e permeou em sua família, que começa a montar com o casamento e primeiro filho em idade escolar fundamental, toda cultura adquirida de evitar até palavras de baixo calão desnecessariamente.
Sua formação, que permitiu ser em seu trabalho um ótimo gestor de análise de risco em atividade financeira, pode utilizar-se destes aprendizados de berço onde claramente os valores adequados de postura e religiosidade eram observados. Religiosidade não em forma de um pregador, mas na consideração ao próximo e nas tentativas de permear igualdade e justiça social.
Ponderado, discreto e inteligente, mas com posições claras que manifestava sobre assuntos polêmicos, tais como aborto, uso discriminado de maconha, casamento entre mesmo sexo, violência a mulher, imigração, redução da idade penal, dentre outros, sempre passou despercebido sobre temas assim, mas admirado por sua postura em geral onde expunha seu perfil ético e honesto.
Palmeirense de criança, influenciado por grande parte da família, deixou de ir a campos de futebol por ter percebido em si um descontrole emocional desconhecido. Passava de uma atuação dócil no dia a dia a uma fúria estranha como o “Pateta” ao tomar o volante para dirigir. Aqui anexo o filme altamente didático, que já completa 65 anos. Observe o quanto o Sr. Walker se assemelha ao Alfredo e o quanto Sr. Wheeler ao palmeirense Alfredo.
Em determinada oportunidade em seu ambiente de trabalho, tomando café após almoço, cercado por pessoas de diferentes áreas, assuntos diversos são expostos neste momento e seus colegas gostavam de ouvir suas opiniões sabidamente sempre muito ponderadas. Entretanto o assunto devirou para o Campeonato Brasileiro de Futebol onde aproximava-se o confronto entre Palmeiras e Corinthians. O Corinthians em melhor posição naquele momento na tabela de classificação, ajudava em caçoadas aos palmeirenses. Neste momento Alfredo, seguro do que queria, tomado do “Sr. Wheeler”, expor seu sentimento no sense “quero que o Palmeiras ganhe do Corinthians neste domingo aos 49 minutos do segundo tempo com gol de mão”. Os colegas de trabalho, mesmo envolvidos no calor da discussão futebolista apaixonante, estranharam o comentário um tanto destoante de seu perfil.

Seu amigo mais próximo, em meio a uma mistura de sentimentos de decepção e de missão de correção, lhe questionou a sós “mas você não é honesto, Alfredo?”. Alfredo já retornado ao espírito do Sr. Walker, estranhou a pergunta e pede ao amigo que explique melhor seu questionamento. “Você é honesto Alfredo e admitir ganhar um jogo de futebol aos 49 minutos do segundo tempo é possível, mas gol de mão é desonesto, pois é irregular. Expor esta ideia conflita com suas práticas, com seus discursos, com ensinamentos replicados ao seu filho”.  Alfredo passou por alguns segundos de confusão mental e como o tema retornou ao apaixonante e transtornante futebol, ele rapidamente confirmou o seu desejo de ganhar do Corinthians aos 49 minutos do segundo tempo com gol de mão, e ainda questionou seu colega “qual o problema?”.
Além do futebol, um paralelo podemos fazer em situações que se imponham predileções pessoais, que tornam pouco fair as decisões, religião e mais recentemente em posicionamentos políticos, onde até o desejo de morte e de doenças as pessoas manifestam sobre seus opositores, sem o menor constrangimento. 

Esta história real do cotidiano leva à confirmação de que paixões e ódio levam as pessoas aos descontroles sobre a lógica, sobre o bom senso e se contradizem. As pessoas se expõem até ao ridículo e mostram sua fragilidade em conceitos e controles pessoais, se tornando tão desonestos quanto aqueles que criticam no dia dia como contumazes desonestos. Isto tem se tornado comum em manifestações “jornalísticas” em alguns órgãos de imprensa, em mídias sociais por pessoas comuns, por representantes de associações diversos, por pessoas individualmente entre amigos e família, enfim um desvio de comportamento, de fácil detecção mas de difícil auto-correção.