terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Faça o que eu falo, não faça o que eu faço

Com a tão esperada aprovação pelo STF (Superior Tribunal Federal) da Lei da Ficha Limpa** a partir das eleições municipais deste ano, vieram manisfestações na carona da decisão. Algumas manifestações associadas a eventos que geraram indignação, outras de falso moralismo, outras de contenção, pois há quem analise que meros erros administrativos não deva ser tratado como caso grave de improbidade. O combativo Senador gaúcho Pedro Simon (PMDB), foi um dos primeiros a se manifestar no dia seguinte a aprovação. Como excelente orador, de improviso na maioria das vezes, disse “ontem foi um dia que marcou o início de uma nova realidade”. Até ai, ótimo. Disse ainda que “Dilma Rousseff poderá, a partir de agora, marcar um novo Brasil, governando com os responsáveis e com os dignos”. Até ai também tudo bem. Reconheceu ainda que Dilma já vem exigindo capacidade comprovada e ficha limpa dos indicados a cargos do Executivo, mas que falta institucionalizar este pré-requisito. Pediu para que Dilma baixe um decreto. Ai já começa a destoar do que não é possível para o momento. Simon, dissidente do governo Lula, tornou-se oposição ruidosa de um partido de apoio ao governo, sabe muito bem que se a presidente baixar este decreto, o partido dele talvez seja o primeiro a deixar a base de apoio ao governo. Porque político não se permite ser investigado, não é padrão e não está na cultura política brasileira. E como é sabido, PMDB é partido que nenhum governante de plantão ousa não flerta-lo para fazer parte de sua base de apoio. Esta ação atingiria os objetivos duplo do senador – PMDB viraria oposição e maior rigidez nas escolhas a todos os cargos públicos. Portanto, sabe ele, que a melhor forma é a Lei da Ficha Limpa vir para eleições, e para cargos públicos de primeiro escalão vir informalmente, isto é, aplicando, mas não divulgando. Vide início deste ano, onde os partidos da base de apoio ao governo reclamaram da austeridade da postura da presidente. Imagine um decreto! E talvez Pedro Simon não esteja tão preocupado assim com esta Lei, pois ela fala uma coisa e pratica outra, quando foi defensor até os últimos dias da ex-governadora do RS, Yeda Crusius, que tem uma ficha razoável para se defender. http://cloacanews.blogspot.com/search?q=yeda
Quando houver a primeira fase de depuração, isto é, alguns anos de Lei da Ficha Limpa em Eleições, virão medidas mais decretadas, pois já será comum e não haverá questionamentos e rebelados. Como nos USA que sabidamente por todos são feitas investigações pelo FBI de toda a vida do sujeito que tomará posse de cargos de confiança e de proximidade ao governo Federal. Steve Jobs, por exemplo, de indiscutível capacidade administrativa e inventiva, teve sua vida esmiuçada pelo FBI (disponibilizadas em em seu site) para poder fazer parte do Conselho Presidencial de Exportações (PEC) no governo George Bush (pai). Apesar de recomendações diversas a cargos de confiança, por ser um lider “brilhante”, há observações de uso de drogas na escola secundária e universidade, negligenciar filha fora do casamento, foi ameaçado por bomba, alem de condutas tais como distorcer a realidade para conseguir seus fins.
Obviamente, não significa que o sujeito com determinados deslizes no passado, não possa ser brilhante em outras atividades no futuro, Jobs é o exemplo disto. Quem poderá dizer são especialistas, bom senso, um pouco de mãe Diná e critérios mais ou menos apertados de acordo com a função exigida.
** Lei da Ficha Limpa, é uma lei de iniciativa popular, que foi aprovada pelo Congresso Nacional em 2010. Como foi aprovada poucos meses antes das eleições, muitos eleitos acabaram não tomando posse e levando a tribunal a sua aplicação sobre os mandatos que se iniciariam em 2011. Tomada a decisão para não ser validada para posses em 2011 e agora (quinta-feira, 16/02) com a decisão favorável à aplicação da Lei para as próximas eleições (municipais de 2012).

domingo, 19 de fevereiro de 2012

La verdad, todos tienen, búscalo

A isso se propõem o blog yntk, além de informação, cultura, curiosidades, contos, estimular o leitor que sobre suas mãos estão os caminhos para saber a realidade dos fatos. Se eles estiverem absolutamente enclausurados, poderá discuti-lo sobre diferentes pontos de vista e concluir de forma mais sensata, com desapego e até mais feliz. No texto que escrevi a seguir é a mistura da cultura com um rabiscar de como se busca a realidade dos fatos, sem muito defini-la.
Durante muitos anos, e até nos dias atuais, quem ainda não recebeu por email a poesia “Instantes” como de autoria do poeta argentino Jorge Luis Borges? Camisetas, peças de porcelana e cópias em espanhol rodaram o mundo como sendo de sua autoria, quando na realidade é apontado como sendo de uma poetisa norte americana, Nadine Stair, que supostamente a publicou de forma discreta, em inglês, em 1978, ou oito anos antes da morte de Borges. Assim como na atualidade, que a algumas informações são dados conotações diferentes da realidade, seja por deszelo ou má intenção, a autoria do quase anonimato da poetisa passou pela afirmação de uma revista argentina de que pertencia a Borges. Já falecido, restou à viuva, Maria Kodama, conseguir que a revista se retratasse, mas a obra já havia tomado o mundo e muitas vezes sob a assinatura de Borges, “poeta espanhol”. O que Nadine Stair escreveu mais próximo é “Daisies” (margaridas), colocando ainda em suspensão o real autor. If I had my life to live over again, I'd try to make more mistakes next time. I would relax. I would limber up. I would be sillier than I have been this trip”, e por ai vai ... Mas será? Porque pesquisadores encontraram somente por Nadine Strain e não Stain, e esta era uma ótima pianista e nada escreveu.
Já Borges, acreditem, tem seu próprio poema Instantes. Mira: “EL INSTANTE: ¿Dónde estarán los siglos, dónde el sueño / de espadas que los tártaros soñaron, / dónde los fuertes muros que allanaron, / dónde el Árbol de Adán y el otro Leño? / El presente está solo. La memória / erige el tiempo. Sucesión y engaño / es la rutina del reloj. El año / no es menos vano que la vana historia. / Entre el alba y la noche hay un abismo / de agonías, de luces, de cuidados; / el rostro que se mira en los gastados / espejos de la noche no es el mismo. / El hoy fugaz es tenue y es eterno; / otro Cielo no esperes, ni otro Infierno”.
Críticos literários e sua esposa menosprezam a poesia panfletada, por não verem o forte conteúdo Modernista do escritor. Indaga Kodama: “El poema, sin ningún valor literario desvirtúa el mensaje de la obra de Borges. Amparándose en una firma famosa, se intenta transmitir un sentido de la vida completamente materialista, sin ninguna busca de perfección espiritual ni inquietud intelectual".
Independente de autoria, o mundo apreciou a poesia. Ao seu autor, seja lá quem for, agradecemos, e pra mim, mesmo bastante distante dos 85, a poesia sempre trouxe reflexão sobre as tolices que praticamos.

INSTANTES (autoria ainda não assumida)
"Se eu pudesse novamente viver a minha vida,
na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais, seria mais tolo do que tenho sido. Na verdade, bem poucas coisas levaria a sério.
Seria menos higiênico. Correria mais riscos,
viajaria mais, contemplaria mais entardeceres,
subiria mais montanhas, nadaria mais rios.
Iria a mais lugares onde nunca fui,
tomaria mais sorvetes e menos lentilha,
teria mais problemas reais e menos problemas imaginários. 
Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata
e profundamente cada minuto de sua vida;
claro que tive momentos de alegria.
Mas se eu pudesse voltar a viver trataria somente
de ter bons momentos. 
Porque se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos;
não percam o agora.
Eu era um daqueles que nunca ia
a parte alguma sem um termômetro,
uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas e,
se voltasse a viver, viajaria mais leve. 
Se eu pudesse voltar a viver,
começaria a andar descalço no começo da primavera
e continuaria assim até o fim do outono.
Daria mais voltas na minha rua,
contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças,
se tivesse outra vez uma vida pela frente.
Mas, já viram, tenho 85 anos e estou morrendo."
“Si pudiera vivir nuevamente mi vida,
en la próxima trataría de cometer más errores.
No intentaría ser tan perfecto, me relajaría más.
Sería más tonto de lo que he sido,
de hecho tomaría muy pocas cosas con seriedad.
Sería menos higiénico.
Correría más riesgos,
haría más viajes, contemplaría más atardeceres,
subiría más montañas, nadaría más ríos.
Iría a más lugares adonde nunca he ido,
comería más helados y menos habas,
tendría más problemas reales y menos imaginarios.
Yo fui una de esas personas que vivió sensata
y prolíficamente cada minuto de su vida;
claro que tuve momentos de alegría.
Pero si pudiera volver atrás trataría
de tener solamente buenos momentos.
Por si no lo saben, de eso está hecha la vida,
sólo de momentos; no te pierdas el ahora.
Yo era uno de esos que nunca
iban a ninguna parte sin un termómetro,
una bolsa de agua caliente,
un paraguas y un paracaídas;
si pudiera volver a vivir, viajaría más liviano.

Si pudiera volver a vivir
comenzaría a andar descalzo a principios
de la primavera
y seguiría descalzo hasta concluir el otoño.
Daría más vueltas en calesita,
contemplaría más amaneceres,
y jugaría con más niños,
si tuviera otra vez vida por delante.
Pero ya ven, tengo 85 años...
y sé que me estoy muriendo.”