terça-feira, 15 de outubro de 2013

Mais Médicos, caso em que a vida é menos importante

Duas perguntas idênticas, feitas de forma diferente, obtém-se respostas diferentes de grupos de pessoas. Porque respondem diferente?
Pergunta 1: Você é a favor ou contra o programa do governo federal Mais Médicos (PMM)? Respostas: Programa CQC da TV Bandeirantes, 64% a favor e 36 % contra (mais de 100 mil participaram via internet). Sala de aula 2º semestre (onde ministro), 21% a favor, 74% contra, 5% indiferente (34 estudantes). Sala de aula 4º semestre (onde ministro), 83% a favor, 15% contra, 2% indiferente (34 estudantes). Colegas de trabalho, 0% a favor, 87% contra, 13% absteve-se (8 pessoas).
Pergunta 2: Se você, ou seu filho, ou mãe, ou amigo ou qualquer ente querido, estivesse moribundo numa cama de hospital, à beira da morte, assistido somente por enfermeiras de experiência, à base de ineficazes medicamentos, gostaria de ser atendido por um médico? Respostas: 100% diria que sim, gostaria de ser atendido por um médico (ao invés de morrer). Resposta obvia, pois ninguém se confessaria suicida.
Mais uma vez a pergunta que não quer se calar, porque respondem diferente? Pensemos e deixemos a resposta para mais tarde.
De forma bem resumida, uma consulta médica a um paciente se divide em 3 etapas: anamnese, exame físico e exame laboratorial. Anamnese é a etapa de entrevista com o paciente, onde é utilizada formas e técnicas capazes de ser o ponto inicial de diagnosticar uma doença. Exame físico é aquele que o médico usa estetoscópio, termômetro e outros, ouve seu coração, pulmão, respiração, lhe aperta o abdômen, rim, etc, para obter mais informações do seu corpo. Os exames laboratoriais ou complementares são auto-explicáveis. Sabe-se que uma anamnese bem conduzida é responsável por 85% do diagnóstico de uma doença, 10% são identificados no exame físico e apenas 5% nos exames laboratoriais ou complementares. Em outras palavras, a ação médica através da anamnese e do exame físico, supondo total falta de estrutura para exames laboratoriais/complementares, perfazem 95% na identificação do problema do paciente e consequente encaminhamento adequado de sua cura.
Todo médico ao se formar sonha em trabalhar em grandes centros metropolitanos, montar uma clínica e ficar rico. Este desejo conflita com a demanda de uma país continental como o nosso, ainda de concentração de renda em grandes centros e com baixa atratividade para lugares de difícil infra-estruturas. Médicos inexistem em quantidade suficiente em grandes centros, imaginem o que não é em regiões distantes dos grandes centros. E ai reside um dos dois principais motivos que faz com que as pessoas se tornem contra o PMM, o fato de não entender o quanto precisa destes médicos por todo o Brasil. Só Campinas-SP, por exemplo, grande centro urbano, gerou demanda através da prefeitura, de 27 médicos do PMM. A imprensa inicialmente demonizou o PMM, seus médicos na maioria cubanos e a origem do planejamento (atual governo). Houve muitas manifestações por todo o Brasil, claramente racistas e de origens diversas, mas na sua maioria, de quem deveria ser isento e/ou de proteção à vida. Toda argumentação criada (leia-se inventada, com baixa criatividade) por entidades médicas e parte da imprensa, foram caindo por terra dia a dia. Um importante médico da elite paulistana, de grande competência, ao ser consultado o que achava do PMM, manifestou que era contrário (como grande parte dos médicos). A seguir sua argumentação e as minhas contra-argumentações:
  • Dr. : “Dificuldade de comunicação (espanhol ou outra lingua)”.
  • Eu: quem está precisando não mede a forma de comunicação, eles geram uma forma de fazê-lo.
  • Dr.: “O que precisa é política pública”.
  • Eu: o PMM não é uma política pública diferente da praticada, é uma força tarefa colocada sobre um deficit extremamente crítico, urgente e muito antigo, que é alta mortalidade em hospitais por não ter médicos.
  • Dr.: “Os hospitais não precisam de médicos, precisam de boas administrações e equipamentos”.
  • Eu: é fato que os hospitais carecem de boas administrações e equipamentos, mas não justifica não implementar a força tarefa de colocar médicos onde tanto precisa.
  • Dr.: “Médicos europeus não saberão lidar com doenças tropicais: leishmaniose, malária, ...
  • Eu: em muito pouco tempo aprende-se, obviamente.

Apesar que o PPM claramente não tomava um só emprego de médicos brasileiros, estes mesmos médicos brasileiros não aceitavam que pudesse chegar verdadeiros anjos da guarda a longínquos lugares deste país. Foi uma atitude minimamente egoísta e elitista. Houve entidade médica que disse que orientaria os médicos brasileiros a não socorrer pacientes oriundos de eventual erro de médicos do PMM. Estes insensíveis médicos sabem que alem da infra-estrutura precária, há a ausência dos médicos que já são pagos para jornadas de 8 horas em hospitais públicos, protegidos por mandatos judiciais ou por simplesmente burlarem os registros de ponto, ficando somente 2 horas no hospital, indo em seguida para seus consultórios particulares. Atitude semelhante, ou talvez mais repugnante, foram de partidos de oposição ao atual governo que tentaram obstruir a votação na Câmara dos Deputados, simplesmente porque o PMM seria um ponto positivo junto ao povo brasileiro e ajudaria em futuras eleições.
Daí sai o segundo motivo do porque as pesquisas não dão apoio de 100% ao PMM, pelo simples fato de não gostarem do governo originador da ideia, mesmo que inúmeros moribundos morram diariamente a décadas, pois precisariam de uma ajuda médica inexistente.
Recentemente o governo de São Paulo anunciou a ajuda financeira a família de drogados em Crack em tratamento. Os partidários contrários ao governo de SP,  pejorativamente chamaram de “Bolsa Crack” e criticaram a iniciativa. Ora, não precisa ser um estudioso da área pra saber que o principal alicerce para manter um drogado em clínica não é o governo e sim a família e este precisa de dinheiro para mantê-lo em tratamento. A ajuda financeira é imediatamente interrompida se houver abandono do tratatamento na clínica.
A vida é mais importante do que qualquer coisa, isto é obvio, mas tem que ser na prática. De sorte, o PPM está indo adiante e muitos passarão a não estar nas estatísticas de mortes precoces nos próximos anos.

2 comentários:

  1. O problema é que esses programas são muito mal explicados e a população não tem entendimento das necessidades, são manipuladas pelas opiniões das grandes emissoras e partidos políticos. Mas não se pode negar que esse programa e essa atitude da presidenta, só foi colocada em prática agora, depois de São Paulo ter mobilizado todo o Brasil a protestar a favor de seus direitos. Porque antes não havia sinal de projeto para melhoramento na saúde, estava tudo bem e o Brasil não precisava de nada, estava bom como estava.

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  2. José Marques Santos Segundo

    acredito que seria uma boa idéia,porém não sou a favor ao pmm, o que é necessário fazer é uma nova estrutura na saúde pública do nosso país.
    Outro assunto para ser discutido é clareza desse programa, que deixa muitas pessoas sem entender direito como funciona, o nosso país tem muitas faculdades de medicina, e quantos médicos se forma todos os anos em nosso país? alguém sabe o número exato?? precisamos buscar médico estrangeiros???
    Na minha opinião não, o que precisamos é UBS e hospitais de qualidade, com equipamento de alta tecnologia com médico comprometido com a saúde pública e uma fiscalização constante, para que os médicos não só passe o seu cartão de ponto, e sim, cumpra a jornada de oito horas de trabalho como manda a lei. Entretanto, os médicos fica no máximo duas ou quatros horas nos hospitais público e depois vai para seus consultórios particulares para cobrar um absurdo das consultas visando ficar rico, isso tem que mudar, também concordo que o salário dos médicos precisa de uma renumeração melhor .Também concordo que os médicos cubanos não iria tomar o emprego dos médicos brasileiros, e sim, seria exemplo para todos.
    Antes de trazer médicos estrangeiros, é preciso acabar com a corrupção dos nossos políticos, porém onde está o dinheiro da saúde publica que pagamos todos meses?alguém sabe??eu sei, em grande fazenda, apartamentos,carro importados de luxo e muitas viajem para Europa, enquanto isso, a saúde pública fica esquecida, e os pobres morrendo nos corredores dos hospitais municipais de todo país, essa é a realidade.


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