31/05, por volta de 19hs., excepcionalmente dando um
tempo a um final de expediente, para chegar a hora de um novo compromisso às
19:45hs., invado um supermercado do bairro, atrás de algo, não sabia ao certo o
que. Num segundo momento decidi por comprar farinha de trigo integral para um
dia fazer pão, na máquina pra isso, claro. Procurei também por um pão de forma
para o café matinal, como se me fosse possível tomar o café matinal. Ao chegar à grande gôndola de pães, me pus de cócoras, para tentar chegar ao “buraco” que
estava o pão que eu queria (aveia ou estes que tem agora de 300 grãos). Nisso
chega um casal, de namorados morando juntos, noivos ou casados, mas algo como “presos”.
Ela à frente com velocidade maior, mais determinada e ansiosa, e mais atrás, um
rapaz. Ambos bonitos, próximos de seus 27 anos. Logo ouço uma primeira primeira
voz de comando da moça, forte e firme, praticamente uma ordem: “pega pão”. Neste approach me foi suficiente para entender o dia dia do casal. Ele
fala calmo e em tom moderador: “vou pegar um integral” e se dirigiu para o
pickup do item litigioso. Ela aumenta o tom e em expressão de autoridade diz: “eu
não quero pão integral, eu não como pão integral”. Ele diz olhando para gôndola escolhendo o produto que “é importante
pão integral”. Ela para seus movimentos com o carrinho de compras, fulmina o
companheiro com o olhar e quase gritando exclama: “eu não gosto de pão
integral”. Eu de cócoras, quase levanto para mediar e sugerir que se levasse
dois pães, mas na sequência ele pacientemente responde: “eu também não gosto,
mas como, porque é importante” e complementou apaixonado “beem...”. Ela já quase
a beira de um ataque, esbraveja: “não quero pão integral, não como, não pega,
não pega, entendeu?” e tudo isso já se podia escuta-la num raio de 10 metros, a sorte deles é que somente nós três estávamos neste raio. Eu
sabia que não me sobraria chutes, apesar de estar aos seus pés, pois da minha
experiência sei que nada mais é do que uma self-therapy realizada por casais
que estão seguros em quem batem. Sumiram rapidamente entre as outras gôndolas e
não percebi a decisão, mas me pareceu que o rapaz dançou em suas pretensões naturalistas
de comer pão integral e lembrei de Adoniran Barbosa que dizia "bom de briga é aquele que cai fora". Mais tarde, vejo a bela e brava moça distante do manso rapaz,
chamando-o para mostrar algo, onde ela acenava com a mão e como um sargento, mais
uma vez ordenou forte: “vem aqui”. Este “vem aqui” foi tão ordenante, grosso
até, que mais nada me restou a não ser rir, e torcer para que a tampa se adapte
à panela um dia, pois não há TPM ou stress que justifique. Se para definir a compra de um
pão em local público há este embate, como não será em casa quando o primeiro filho
esgoelar por uma noite inteira? Lembrando ainda que esta intempestividade, não é privilégio das mulheres, pois homens fazem shows tão maravilhosos (para o público como eu) quanto as mulheres.
briga perdoa perdoa briga.
Não se deve xingar a vida,
a gente vive, depois esquece.
Só o amor volta para brigar,
para perdoar,
amor cachorro bandido trem.
Mas, se não fosse ele, também
que graça que a vida tinha?
Mariquita, dá cá o pito,
no teu pito está o infinito."
Carlos Drummond de Andrade
Toada do AmorE o amor sempre nessa toada!
briga perdoa perdoa briga.
Não se deve xingar a vida,
a gente vive, depois esquece.
Só o amor volta para brigar,
para perdoar,
amor cachorro bandido trem.
Mas, se não fosse ele, também
que graça que a vida tinha?
Mariquita, dá cá o pito,
no teu pito está o infinito."
Carlos Drummond de Andrade
Muito bom. Enriqueceu todo conteúdo do blog.
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