quarta-feira, 6 de junho de 2012

A tampa e a panela

31/05, por volta de 19hs., excepcionalmente dando um tempo a um final de expediente, para chegar a hora de um novo compromisso às 19:45hs., invado um supermercado do bairro, atrás de algo, não sabia ao certo o que. Num segundo momento decidi por comprar farinha de trigo integral para um dia fazer pão, na máquina pra isso, claro. Procurei também por um pão de forma para o café matinal, como se me fosse possível tomar o café matinal. Ao chegar à grande gôndola de pães, me pus de cócoras, para tentar chegar ao “buraco” que estava o pão que eu queria (aveia ou estes que tem agora de 300 grãos). Nisso chega um casal, de namorados morando juntos, noivos ou casados, mas algo como “presos”. Ela à frente com velocidade maior, mais determinada e ansiosa, e mais atrás, um rapaz. Ambos bonitos, próximos de seus 27 anos. Logo ouço uma primeira primeira voz de comando da moça, forte e firme, praticamente uma ordem: “pega pão”. Neste approach me foi suficiente para entender o dia dia do casal. Ele fala calmo e em tom moderador: “vou pegar um integral” e se dirigiu para o pickup do item litigioso. Ela aumenta o tom e em expressão de autoridade diz: “eu não quero pão integral, eu não como pão integral”. Ele diz olhando para gôndola escolhendo o produto que “é importante pão integral”. Ela para seus movimentos com o carrinho de compras, fulmina o companheiro com o olhar e quase gritando exclama: “eu não gosto de pão integral”. Eu de cócoras, quase levanto para mediar e sugerir que se levasse dois pães, mas na sequência ele pacientemente responde: “eu também não gosto, mas como, porque é importante” e complementou apaixonado “beem...”. Ela já quase a beira de um ataque, esbraveja: “não quero pão integral, não como, não pega, não pega, entendeu?” e tudo isso já se podia escuta-la num raio de 10 metros, a sorte deles é que somente nós três estávamos neste raio. Eu sabia que não me sobraria chutes, apesar de estar aos seus pés, pois da minha experiência sei que nada mais é do que uma self-therapy realizada por casais que estão seguros em quem batem. Sumiram rapidamente entre as outras gôndolas e não percebi a decisão, mas me pareceu que o rapaz dançou em suas pretensões naturalistas de comer pão integral e lembrei de Adoniran Barbosa que dizia "bom de briga é aquele que cai fora". Mais tarde, vejo a bela e brava moça distante do manso rapaz, chamando-o para mostrar algo, onde ela acenava com a mão e como um sargento, mais uma vez ordenou forte: “vem aqui”. Este “vem aqui” foi tão ordenante, grosso até, que mais nada me restou a não ser rir, e torcer para que a tampa se adapte à panela um dia, pois não há TPM ou stress que justifique. Se para definir a compra de um pão em local público há este embate, como não será em casa quando o primeiro filho esgoelar por uma noite inteira? Lembrando ainda que esta intempestividade, não é privilégio das mulheres, pois homens fazem shows tão maravilhosos (para o público como eu) quanto as mulheres.
Toada do Amor
E o amor sempre nessa toada!
briga perdoa perdoa briga.
Não se deve xingar a vida,
a gente vive, depois esquece.
Só o amor volta para brigar, 
para perdoar,
amor cachorro bandido trem.


Mas, se não fosse ele, também
que graça que a vida tinha?


Mariquita, dá cá o pito,
no teu pito está o infinito."
Carlos Drummond de Andrade

Um comentário:

Seus comentários são livres, a favor, contra ou neutro em relação ao tema do post, mas nunca devem conter ofensas pessoais ou serem feitas de forma anônima.